Não sei quanto tempo durou. Sei que senti um profundo desespero.
Não sei quanto tempo durou. Sei que senti um profundo desespero.

Não sei quanto tempo durou. Sei que senti um profundo desespero.

Hoje iniciamos o compartilhamento de relatos de histórias de abusos e violências sofridas por mulheres. Falar sobre o que passamos é reviver, é reabrir feridas? Sim. Dói? Sim! Mas falar é, também, parte do processo de cura, é se abrir para o acolhimento. E é, sobretudo, um grito pro mundo: não vamos mais nos calar diante de nenhum tipo de violência.

Não sei por onde e como começar. Tampouco colocar em palavras uma vivência de muitos anos. Não faço ideia quando foi, bloqueio total. Nem a minha terapeuta sabe. Um segredo guardado, como se não tivesse vivido, acontecido.

Lembro que era uma noite agradável, saí com minhas irmãs e meus tios. Fomos um local de festa muito conhecido na cidade, point na época. Por lá ficamos nos divertindo. O pessoal foi embora e eu optei por ficar mais um pouco.


Então conheci um cara, que era conhecido de outro amigão e ficamos. Em um dado momento saímos, fomos caminhar na rua e eu, ingenuamente, fui sem entender nada. Quando dei por mim, estávamos no apartamento dele.


Não sei quanto tempo durou. Sei que senti um profundo desespero. Fui para a sacada e chorava muito e pensava em pular, mas tinha medo de me machucar. Enquanto isso, a criatura estava nua no banheiro se arrumando.


A porta da casa estava sem a chave. Então tive que transar com o cara para poder ir embora. E assim foi. A roupa que eu usava no dia, embora adorasse, acabei me desfazendo. Era uma camisa branca que ganhei de um amigão, hoje já falecido. E uma saia lilás, minha paleta de cores preferia desde a infância.


Esta memória veio à tona muito sem querer, deixei escapar em uma conversa com uma das minhas irmãs. Nós voltávamos do trabalho juntas e, por algum motivo, o assunto surgiu.


Dentro de mim, do fundo da minha alma, não há nenhum sentimento de medo, raiva, revolta, nada. Não me considero uma coitadinha e não quero ser vista assim.


Há 3 anos minha vida mudou completamente positivamente e tenho plena certeza, o passado, como um todo, vejo como aprendizado, sem qualquer sentimento que possa, em primeiro lugar, me machucar e/ou interferir na minha saúde como um todo – física, espiritual, mental, emocional.


Me sinto mais leve após este depoimento! Bola pra frente, a vida é mais, e vale, MUITO, a pena viver um dia de cada vez!


Quase perdi a vida de verdade, e o meu olhar é de QUERER VIVER! Como diz Lulu Santos: “Vamos viver tudo o que há pra viver, vamos nos permitir.”